sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Jovens libertam agentes e rebelião em presídio de Vila Velha termina após quase oito horas


Chegou ao fim a rebelião iniciada na manhã desta quinta-feira (22), por 30 internos alocados na Unidade de Internação Sócioeducativa (Unis), agora localizada no complexo penitenciário de Xuri, em Vila Velha. Os quatro agentes que ainda eram feitos reféns foram liberados pelos detentos durante a tarde. No total, desde o início do motim, oito pessoas ficaram nas mãos dos rebelados.

Um agente penitenciário que era mantido refém foi libertado após sofrer um infarto, por volta das 14h30. Ele precisou ser socorrido por um helicóptero da Polícia Militar, que levou o agente para um hospital, que ainda não foi confirmado. Logo cedo equipes do Batalhão de Missões Especiais (BME) seguiram às pressas para o local com o objetivo de negociar com os rebelados.

Assim que a tropa de choque chegou à unidade, os internos atearam fogo em uma das alas. O batalhão ocupou o pátio com os cães em meio á fumaça. O que chama a atenção é que a rebelião teria começado justamente na ala conhecida pelo melhor comportamento da unidade. Segundo agentes penitenciários o motim foi planejado desde a quarta-feira (21), mas nenhuma ação para impedir os jovens teria sido feita.

Os internos reivindicavam, entre outras coisas, o direito de receber visitas íntimas e cigarros. Após uma hora de negociação, a equipe do BME conseguiu convencer os jovens a liberarem três dos oito reféns. Eles foram atendidos na ambulância do Samu, que desde o início do motim ficou de prontidão na frente da unidade. Enquanto os policiais trabalhavam para conter a rebelião, os familiares dos internos estavam desesperados.

"Os menores não têm o direito de ligar para as mães, muitas coisas eles estão fazendo para dar castigo neles. Teve a mãe de um menino que se matou e morava longe, na Bahia, não tem visita, não pode receber visita de namorado, nada. Tudo é proibido neste presídio. É por isso que eles estão fazendo isso. Eles ficam em depressão e vão acabar se matando dentro do presídio. Eu quero que tomem uma providência", disse Maria da Penha, mãe de um interno.

A nova unidade da Unis atualmente atende 80 jovens e adolescentes. Segundo informações da assessoria do Instituto de Atendimento Sócioeducativo do Espírito Santo (Iases), eles fazem parte da fase intermediária da instituição e já estão na segunda fase dos programas da unidade. O restante dos jovens e adolescentes estão controlados e não fazem parte da ação. Os internos envolvidos têm entre 17 e 21 anos.

Novo alerta da OEA
No último dia 1º de setembro, a Corte Interamericana de Direitos Humanos, entidade ligada à OEA (Organização dos Estados Americanos), rejeitou um pedido do governo brasileiro e manteve a medida provisória que declara que há “risco iminente para a vida e integridade pessoal” dos internos da Unis (Unidade de Reintegração Socioedicativa), no Espírito Santo.

Essa resolução tem validade até 30 de abril de 2012. Até lá, o governo precisa comprovar o cumprimento das determinações emitidas pelo tribunal para garantir a integridade dos internos.

A corte da OEA alega que manteve a declaração com base em “recentes denúncias de tortura e demais agressões” aos internos. Na resolução, foi informado ao Estado brasileiro que ele tem obrigação de garantir a vida e a integridade pessoal dos adolescentes “sem prejuízo de que alguns desses beneficiários tenham mudado o local de privação de liberdade”.

O pedido de retirada das medidas cautelares contra o Brasil foi feito pelo governo em 25 de agosto, durante audiência pública em Bogotá, na Colômbia.

Ao solicitar a suspensão das medidas, o país alegou que a maior parte dos adolescentes que se encontravam na Unis desde a primeira resolução da corte havia sido transferida para outras unidades de atendimento sócio educativo.

Segundo Sandra Carvalho, diretora adjunta da ONG Justiça Global, uma das entidades que assinam a denúncia, “a corte entendeu que as medidas alcançam esses menores onde quer que estejam”.

- A alegação de transferências dos internos não significa que o governo tenha cumprido o que foi determinado.
Em sete meses, essa é a segunda resolução emitida pela OEA em relação a Unis no Espírito Santo. 
A primeira denúncia internacional foi encaminhada em 2009, após sucessivas rebeliões e homicídios de adolescentes na unidade.

Além da Justiça Global, subscreve as denúncias o Centro de Defesa de Direitos Humanos da Serra (município da Grande Vitória).

A denúncias também têm apoio da Pastoral do Menor e da Clínica Internacional de Direitos Humanos da Faculdade de Direito da Universidade de Harvard (EUA).
Iases afirma que ainda precisa analisar decisão.

"Ainda não recebemos o documento dizendo que a corte interamericana decidiu prorrogar por mais seis meses a medida. Precisamos analisar o texto do documento. Se prorrogou a gente entende que deve continuar nesses avanços em relação à Unis. A Unis tinha 357 e hoje tem 40 adolescentes. 

Nós reordenamos todo o programa de atendimento e a Unis só atende adolescentes de 12 a 16 anos da Região Metropolitana. Eu ainda tenho que verificar com base em que a corte se pronunciou", disse a diretora presidente do Instituto de Atendimento Sócio Educativo do Espírito Santo, Silvana Gallina.

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